domingo, 19 de julho de 2015

Carapaça

Existem animais que se movem entre os séculos, desde tempos imemoriais. O caranguejo, o escorpião, lagartos, peixes, aves de rapina.
Estão ligados ao fio primitivo, àquilo que o homem sepultou durante milênios de civilização, sob impérios e pirâmides, sob cimento e areia, sob sistemas de irrigação e agricultura, através do domínio do fogo, através do domínio dos sentimentos.
Na animalização dos instintos e ditos insanos, na bestialização dos sentidos, polidos e regrados por reis e príncipes, por decretos e leis, através da crueldade do homem público, citadino.
A desmistificação do destino como serpente. A serpente como raiz; como radical dos seios, da vagina e do útero femininos. E dos sentimentos não silenciados. A figura meio selvagem associada ao primitivo e ao mesmo tempo à agilidade da inteligência e à capacidade de capturar tenazmente sua presa, podendo ser dotada de peçonha ou de garras.
Sistema Nervoso Central e a explicação purificada de suas ramificações.
Deus criou o Homem e o Demônio,
O Demônio criou Deus e o Homem,
E o Homem criou Deus e o Demônio
Para perpetuar a dança colérica das marés e dos ventos solares, a dança das estrelas em nascimento e morte, o rodopiar dos planetas em torno de si mesmo e das tripas dos animais.
O crepúsculo, Lua, Júpiter e Vênus nos céus, aos olhos do mundo, aos olhos do sábio, aos olhos do velho, aos olhos do novo, sobre os auspícios deus e dos homens.
Humanos presos aos destinos das carnes próprias e dos sexos dos astros. Os animais de carapaça, os mais primitivos, são aquáticos. Nossas raízes estão embebidas no solo da terra, terrosa, fria e profunda. E nas águas, planetário lírico e libidinoso, nossas raízes estão nos musgos e líquens, estão no céu da boca de um riacho, no mangue, no mar, no córrego, nas cachoeiras, nas nuvens encharcadas de chuva cinzenta. 

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