segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Plutão

Fumaça e olhos de morte,
Sem esperança e sem fala.
Velho, alquebrado e perdido
Procura em relâmpagos uma dor
Esquecida
Ou apenas um simples retrato da juventude.

Palpita e transpira o frio.
Sem paixão ou doçura.
Pão, ardor e luta 
Procura em dedos crispados
Uma velha canção
Ou somente as danças cansadas de outrora.


Boca opaca e sem dentes,
Sem amor e ilusão.
Procura escapar em um grito mudo:
O mudo grito do terror
Ou da apatia.

Pouco importa...

domingo, 24 de junho de 2012

Alcova e espelho

Cansada de fugir, sem inspirações ou paixões
Sem rumo, sem ventos e carícias.
Corre em desespero mudo e 
Através de espelhos
Encontra seu duplo, sua doença e consciência.
E em casta transparência
Exibe véus em sangue e sofrimento.

Cinza, cor de noite,
Platina os olhos do gato
E adormece aos mais moços:
Expurga a antiga maldição
desta alma solitária
E que finge que sorri.

Verde, cor dos olhos,
contorna mãos e lábios
e em sussurros de prazer
esconda a tormentosa angústia
em tuas vestes, pálida pele.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Espelho

Clamo aos Deuses por seus auspiciosos
Presságios e sinais, mas
Sinto-me perdida, em mudas preces,
vagando por veredas de musgo e chamas.
E na escuridão dos dias iguais,
A cada momento me afogo em desilusão,
Em sombras de mares revoltos
E nas noites sem estrelas-guias.
É a solitude do olhar melancólico,
São os dedos vazios de tintas, crenças
E o antigo e triste amar;
Sempre tão estranho e amargo.
Sinto repulsa ao espelho e seu cruel deleite, destino.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Epílogo

Meus olhos outonais
Em uma brisa distante
Transmutam-se em velhos galhos...
E juncosos dedos buscam o passado voraz:
Pássaro de mil faces
Canta os feitos de outrora e suas dores
Nodosas árvores em meu coração
Lampejam através das brasas
De uma antiga e longínqua lareira.
Apagaram-se os caminhos na estrada veloz.
Nunca pertencerás a este mundo, eterna perdição.
E somente verás os sorrisos alegres
Através de sombrias janelas e umbrais alheios.
Pois siga então em teu labirinto de solidão.
Aqui termina mais um capítulo, mulher.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Abismo

O silêncio da dor grita
Em meus olhos arvorescos
E em espirais de sofrimento,
Danço nas mãos da cruel loucura.
Abismo e obsessão infindáveis
Cantam os eternos terrores
E neste meu corpo de tempestade,
A vida dilui-se em angústia e melancolia.
Vermelho céu de desespero em alma
Expurga desta existência o horror profundo,
Pois não há liberdade...
...Neste tenebroso coração de pássaro negro.

domingo, 1 de abril de 2012

Pequena Chama

A luz de teus olhos
Correm por meu corpo
E em silêncio de paixão e desejo
Escuto tão somente as batidas de nossos corações:
desesperados e em uníssono.
A galope procuro fugir
Em direção aos ventos da solidão
Já tão conhecidos e cativos de meu Ser.
Mas tu me (re)encontras
E me (re)conquistas
E com um sorriso tímido
Envolve-me em teus braços.
Braços de amante que fazem parar o tempo,
As guerras e os chorares amargurados
De um há muito abatido e esquecido peito...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Saturnino

O Demônio de mil faces

Lembra-me sempre deste coração saturnino,

Empoeirado e cheio de anéis.

Ansiedade, dor e medo:

Dilatam minhas pupilas cinzentas,

Amantes cruéis e vertiginosos

Que se devoram em espirais de loucura e caos.

E nas sete esferas infernais, 

Presentes nesta mente,

Furtivos ventos e antigos galhos

Derrubam nuvens negras entre meus dedos de lua.

Pois nas agonizantes tempestades de ar

Vemos o outono se aproximar

Nos olhos de um  velho homem.

domingo, 4 de março de 2012

Morte e Delírio

Angústia e frieza,
arranham minha pele e eriçam meus pêlos
Com seu toque úmido e intenso
mas quase imperceptível...
Falsamente delicado.

O coelho corre ao longe....

Não há dor pra quem já está morto.
Distantes nuvens de fumaça 
se formam sobre 
Seus olhos de vidro.

E encaracolados cabelos de metal
Dilaceram meu corpo inerte,
Enquanto embriagados dançamos,
Como loucos, a última sinfonia.

Inexistente paixão e dor constante:
Não há grito, não há mais súplica:
Tão somente uma terra árida,
Um peito abatido e sem vida
E confortavelmente anestesiado.


Semeadura

Há naquele céu de prata
Lampejos de cinzas e rosas
E em suas nuvens taciturnas
Vejo, porém, a aurora distante
A insinuar-se preguiçosamente
Sobre o céu de Saturno,
Céu de Lua e de Estrela Vênus.
Tristezas, cantos, corpos e cheiros,
Embotados com os primeiros raios
Do mestre de todas as manhãs...
Trazendo calor e canções
Até mesmo aos corações mais cansados e solitários.

[01/03/2012]


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Coração Esquecido

O sal do mar fustiga meus olhos
Sombrios olhos de medo e dor.
Ventos frios corroem tuas velhas botas,
Mulher esquecida e pálida.
Mãos de carvalho, coração de pedra.
Quem se lembrará de ti?
Ou de teus grandes olhos cor de terra?
Talvez um longínquo cantar de pássaros
Relembre teu sorriso ou de teus lábios secos...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Jovem Dama

Velhas esperanças permeiam a alma da jovem dama:
Coração de pássaro, corpos de prisão em sonhos.
Estou tão longe, sigo solitária.
Distante de mim mesma e dos meus caros.
Desejo aquilo que se mostra tal e qual uma sombra 
E um pensamento, tão somente.
Apagado pelo último repicar dos sinos,
Numa tarde chuvosa, mas ensolarada.
Entre as nuvens, brincam furtivos anjos de luz.
Cantem novamente e  me tragam o belo ribombar das ondas perdidas.
Ou seriam somente das antigas canções, há muito esquecidas?
A escolha ainda está em tuas mãos, doces e brancas, jovem dama?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Meus tendões se movem vagarosamente
Pelas cordas de teus cabelos
E pelos lábios de teus pelos, 
Minha pele se agita em solitude.

Voz e olhos, mãos e dedos.

Coração alquebrado, carrega pedaços
De pão, papel e amor.
E em mil cabeças de dragão
Revolve os sonhos encaracolados
Por milhões de anos e medos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Tempo Forte

Sonhos devem ser dissipados pelos ventos,
Pelos infortúnios e pelas tempestades dos dias
Sombrios como teus olhos frios e cortantes
Pela tua pele felina e por teus dedos de rapina.
Contudo, ficam em loucuras  de paixões ébrias.
E o coração pulsa em desmesura
E sem compasso
frenético, alucinado,
dança a canção da dor, sem pausas.
Alegrias, esperanças... 
Não há grito no peito sem amor
Mas não há prazer tampouco.
Delírios e fantasmas...
Síncope.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Manhã Chuvosa

Mulher-Vento, Mulher-Dia
Mulher-Fogo, Mulher-Noite.
Em teu útero gera-se o sangue,
Gera-se vida e dor.
Na Beleza de teus olhos caleidoscópicos
Fagulhas dos deuses dançam e cantam
E na sombra de tua noite
A antiga morada do sonho habita;
Inominável, forte e misteriosa.
Nos dias de teu corpo,
Vênus pulsa e choram Faunos.
Raízes, galhos, muros e chão;
Terra molhada brota de teus seios
E de teus cabelos de mar,
Ondas de medo soturno caem.
Volta a dormir, pois, mulher,
Somente mais uma manhã chuvosa se insinua sobre o céu.





sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Calvário

Pele escaldante em vento fustigante,

Cravos profundos em carne pulsante,

Coração vivo, olhos de preces...

A Terra gira em frenesi no entardecer da dor.

Se eu morrer qual será minha recompensa?

Punição, culpa e sofrimento:

Eis teu calvário, tua inglória saga.

Preciso saber, Senhor, não anseio por ser morto em vão.
Risos, escárnio e solidão, eis o que te aguarda, meu Filho.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O Suspiro do Flautista

Lábios macios tocam tangencialmente o instrumento...
 E em ventos de mares e céus
sopram melódicos compassos
na dança frenética dos Deuses.

Mãos ágeis, olhos felinos.

Suor, saliva, língua e suspiros:
neste jogo um tanto erótico
toco seu corpo esguio e metálico
com calor, doçura e frenesi.

E com um sorriso e cansaço
Deixo-te de lado após horas
Degustando-te qual vinho 
Em ébria paixão feroz.