tag:blogger.com,1999:blog-25085199925494370352024-03-12T23:43:41.387-07:00A voz do bardoAna Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.comBlogger144125tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-74907793989185864862018-01-25T19:16:00.001-08:002018-01-25T19:16:25.913-08:00Fogo<span style="background-color: black;"><span style="color: #f6b26b;"><span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">Olhar para o fogo, sustentar o olhar do fogo, mirar a mirada do fogo. Não é a inspiração que se sustenta por mais tempo, mas sim a expiração. Brasas, cinzas, estalos de galho seco no seco do quente do fogo. Soltar, voltar, lutar. Na vontade se expira. Redescobrir o ardor, a força, a paixão pelo vento que alimenta o fogo. Mesmo que os tenha perdido: o vento e o fogo. Sobra a teimosia. Caso pense que sabe a resposta, pois não se sabe, desistir não é uma solução. Deitar. Olhar p</span><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">ara o fogo, atenta, atento. Não dormir um sono-torpor, dormir um sono-sonho. Esqueça sobre escrever. Obedeça ao chamado da terra, as raízes são como pequenas nervuras entre os dedos, entre os dentes, entre as unhas. É estranho, leve e fluido. A terra é leve e fluida. Estranho, mas é. Acabou o caminho, que seja, vá-se embora. O vento e o fogo estancam a fome e a terra nos faz redescobrir o ardor. A terra arde ao sustentar o olhar do fogo. Mirar a mirada da terra é a expiração de tantos caminhos. A inspiração é atenta ao vento e ao fogo. Olhar é atentar para os perdidos no seco do seco do osso. Não dormir um sono-morte, não ainda. Não lutar sem antes soltar, não voltar sem antes lutar. A teimosia da terra é leve como uma pequena nervura entre a paixão e o sustento. A força demanda tempo, tempo consumido pelo obedecer às raízes que alimentam montanhas, ferros e cascos ao se sustentar o olhar do fogo, olhar para o fogo, mirar a mirada do fogo. No seco se volta, no risco se caminha, no chão se escreve, no sonho não se dorme, na redescoberta se curva o galho seco no seco do vento.</span></span></span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-22208304346887361922018-01-24T17:07:00.001-08:002018-01-24T17:08:16.376-08:00Mar<span style="background-color: black; color: #d9ead3;"><span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">E esse olhar gigante imenso posto sobre o outro e sobre todos os ângulos possíveis é um doer por demais, eu sei. Você se esqueceu de pegar a corda ao descer? É como provar com os teus olhos uma cor, como sentir um café com a tua língua, como cheirar o mar no qual você tanto gostaria de estar. Fecho os olhos e vem todas as marés ancestrais de um mundo inteiro onde cantaram onde amaram onde guerrearam em todas as mais possíveis línguas dos homens, os homens. Marítima fé me lemb</span><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px;">ra até soberano Júpiter e enxergo o verde no toque da brisa que te toca num sonho onde algo me apareceu de olhos imensos e escuros sobre todos os ângulos possíveis, fugidio. Saiba que o gigante, o mítico, o encantamento, o mar, o café, o ancestral, o Mediterrâneo possuem em todos os homens o teu espelho, o teu nome, o teu estar. Eu fecho as cores e sinto como você pôde se colocar por breve segundo em minha língua. Meu corpo não se esquece de um rosto. Debaixo da minha língua escondo minha marítima fé que é imensa larga e gigante como todos os que tiveram esposas, olhos, cores, luas, vertigens, julgamentos. Como todos aqueles que adoeceram cedo e não longe foram. Para aqueles que junto à você o mar vai levar para fechar os olhos e ver o Sol ainda que bem longe. Perceba: nossos ancestrais choraram o mar sobre as tuas dores nas vertigens do meu encantamento melancólico. </span></span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-60005221414073667622018-01-14T14:52:00.001-08:002018-01-14T14:52:06.560-08:00Retorno<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;">Se você percebesse o quanto da vida se derrama em
nosso colo sem que nada, mas nada, possamos fazer. Se você soubesse que a construção
e a estabilidade estão divididas entre séculos e campos. Que o encontro de
estradas e de estrelas é aquilo nos faz num rompante de mundo ser um mesmo
único tempo e depois desfazer-se por inteiro. Que o tempo é mistério. Que a instabilidade
faz de nosso corpo-campo-sopro aquilo que nós somos. Que o Destino tem voz que
machuca-constrange. Tem tanta gente. Não temos culpa que a construção seja
construída na vaga ideia de um tempo mensurável. Se você percebesse, você
saberia num desespero quase ansioso, quase infantil, quase fortuito (quase
sábio) que você é único e que depois não haverá mais esse único haver. Que
haver é preparar-se para não mais haver. Se você tivesse fé nas estradas e nas
estrelas saberia que a construção se desfaz por inteira num rompante único. Se
você permitisse que estradas e estrelas se derramassem em teu colo, talvez você
soubesse. Se você se permitisse saber que não há talvez nada mais único e
bonito do que simplesmente não saber o que haverá. Que o tempo é fortuito e
somos infantis, constrangidos. Que o mistério é um rompante e somos machucados,
mas imensos. Se você soubesse que somos imensos, apesar de toda essa gente. Se
nesse único houvesse você percebesse que somos gente.</span><o:p></o:p></span></div>
Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-86734546606891081312017-05-07T10:57:00.000-07:002017-05-07T10:57:10.677-07:00Carta sobre carta<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;">Rio de Janeiro, 07 de julho de 2016<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;">Olá, L., tudo bem? Fiquei pensando sobre o que
escreveria numa primeira correspondência. Matutei durante dias sobre assuntos
diversos, desde temas mais rasos sobre a temperatura que faria por aí aos mais
profundos e que calam forte dentro da gente feito represa d’água. Mas não, nada
disso daria conta ou teria relevância numa primeira carta, pois desses
assuntos, a gente proseia quando bem entende, quando o momento pede, quando há
uma sincronicidade (como diria o velho Jung, você deveria lê-lo) que eleva o
ser “pessoa” ao ato de enxergar mais além e ver junto ao Outro. E esse não é o
momento. Bem, vou deixar o fluir sob a forma de uma “metacarta” (uma carta
sobre o próprio fazer-se carta). Não como receita de bolo, pois não há fórmula
pronta, pré-estabelecida, não há medidas, não se pode ser julgada de tal modo,
isso seria grande bobagem e quase uma afronta ao ser-carta. Porém, essa receita
serve muito bem para escritos que passam por outros processos de transformação
e depuração. A carta possui mais um elemento bruto, como sonata quase pronta, vem
do solo de nossos dedos até a ponta da caneta. Não se torna menos interessante
por isso, pelo fato de não encontrar a alquimia dos alimentos que são fervidos,
que são cozidos, que são transmutados e se plantam sobre um prato por cima de
uma mesa de madeira. Eu vivo com fome, pensar sobre como alimentar e todos
esses processos de forma mental, poética e alquímica fazem parte de um dos meus
sistemas de pensamento. A carta é como um veículo, como um carro, um trem, mas
que se locomove pelos dedos que possuem o conhecer de decodificar um sistema de
símbolos tão primário aos nossos olhos, mas tão complexo se olharmos com o pensar
um pouco mais atento: o alfabeto. O alfabeto conhece (em parte) todas as
possibilidades de transições entre estágios de humor, passado, presente e
futuro da vida dos seres deste planeta. Podemos escrever uma carta como se a
gente fosse um animal, o alfabeto possibilita isso, mas seria pretensão tentar
sentir e pensar plenamente como cobra ou como beija-flor ou como taturana. A
torre de babel já desabou há um bocado de tempo. Portanto, palavras limitam,
mas expandem ao mesmo tempo, tudo misturado, e daí entra o elemento que seria o
Mercúrio para alquimia: quando verbo e movimento de forma simples se humanizam,
se harmonizam. O simples é o contrário de fácil. Cultuo a simplicidade da
carta, pois ela parte de premissas que ocorrem em cotidianos, nas pessoas
observadas pela gente quando se senta num banco de praça qualquer,
despretensiosamente. Ser despretensiosa, caminhar ao sabor dos ventos (quando
enviada para outro país), entrar numa garrafa e vagar por cidades e Estados,
essa é carta, uma delas, das que estão cheias de coragem para serem postas em
garrafas e viajar por mares, terras e ares, por isso elas são também aqui
chamadas de brutas. Porque na sua delicadeza tão tímida são fortes e comportam
uma imensidade de caminhos e de vidas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;">Atenciosamente,<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="background-color: black; color: #eeeeee;">A.</span><o:p></o:p></span></div>
Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-38247133314930057982017-01-07T20:25:00.001-08:002017-01-07T20:25:33.909-08:00Breve consideração sobre um início<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;">A Lei Tríplice e a Roda da Fortuna entram em
comunhão mágica como forma de alquimia ao mostrar que aqueles que estão sob os
pés de outrem, na terra pisada, cansada, se tornarão uma ave, um pôr-do Sol, um
mistério sereno, uma alegria repentina, uma toada antiga, porém nova quando
tocada, uma sorte que os ventos trazem através de pontuação de nomes esquecidos
no coração dos astros. Nunca sejas fechado aos Destinos dos Homens, cantou
alguém há uns bons pares de anos. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;">Mas aqueles que com arrogância impostaram
suas sinuosas sobrancelhas em montes de merda e areias quaisquer vão descender
em grau, virtude, fonte, sorte, norte, corte, termo e face em barulho de
rítmico serrote, espelhado em si, na velocidade de sua própria queda, pois
língua num é osso, mas quebra osso e quem ascendeu, hora dessas vai moer
moinhos por debaixo da foice da terra fria, embaralha de novo, há mais uma
partida, aposta as fichas, perde tudo, ganha em calvície, cabelos brancos,
sorrisos bonitos e coração profundo, essa profusão é um esplendor quando mirada
com os dois olhos em terra de cego, ambos fixos. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;">Covardia se paga com coragem,
assim como a Coragem é paga com covardia, mas faz parte do rei está morto, viva
o rei, é um jogral, uma paráfrase de um tensionado Destino que arrebenta corda
e encaracola-se em si, voltando a ser musicada <i>in utero</i>, embaraçada em sua prazerosa extensão aguda de quase corda
de berimbau, quase fio de teia que aranha tece. E a única norma que pode ser
forma é nenhuma regra ter, parafraseando divino intenso Belchior, é nunca fazer
nada que o mestre mandar, sempre desobedecer, nunca reverenciar, algo assim,
mais ou menos ou mais para mais que para menos, inclusive.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #eeeeee;">Corda bamba vira
gangorra de metal pesado, pedra de sal desmancha após tanta água mole, o velho
rejuvenesce e o que cresceu é tempo de decrescer, trilha, milho, folha, murcha.
A violência é calma, a maré é bravia, tudo que o Sol toca, vira por destemido
capricho da noite a Lua e mais um punhado de estrelas que cintilam e que
mostram finitude, extensão, propensão, ascendência e descendência, é uma
questão de ângulos, espelhos, nortes, como já disse e repito, o circular se faz
carne em verbo e necessário pode ser dito em breve momento para logo tudo
desfazer, pois é o desnecessário que vira e mexe importa.</span><o:p></o:p></span></div>
Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-22794180316942611732017-01-07T17:50:00.004-08:002017-01-07T17:50:38.609-08:00Arame farpado<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #cccccc;">Uma adaga com o punho incrustado de pedras preciosas
perfura um coração preso numa tela de arame. O sangue de tonalidade escura,
levemente fresco e odor de ferrugem, penetra papilas e pupilas. É a vida que escureceu-se num beco sem sabor
e apodreceu sob um cinza céu acima de nossas cabeças num domingo ao cair da
tarde não percebida. Um velho gato me disse: “é bom ter você de volta, senti
saudades”. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #cccccc;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #cccccc;">Qual foi a última que fui tão longe? Pensei que dessa vez não
voltaria, fica cada vez mais difícil voltar e encontrar as notas certas para
cobrir aquela frase musical ou aquele rabisco que prometi a você ou mesmo para
retornar e comer um prato de comida, tomar um banho, vestir roupas limpas, dar
um jeito no apartamento. As palavras se tornam cotidianamente um arame sabor
ferrugem em meus dentes, é como se houvesse uma faca presa entre minha arcada
dentária. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #cccccc;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #cccccc;">Hoje eu realmente fui muito longe, as imagens do gato branco e preto
de minha infância, essa herança genética preenchida de medo, a imagem em
looping na cabeça de um sonho sobre a degola de uma mulher que jurei vingança (mas
antes de tudo um abraço e um riso sardônico), o arame de coração humano e ainda
vermelho vivo, acabava de sair do corpo de alguém, as pedras eram de um tom
violáceo que davam à peça cardíaca um aspecto de putrefato antes do tempo. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #cccccc;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: #cccccc;">O
coração corpóreo e incrustado começou a cercar-se de pássaros negros que
dançavam em círculos leves, ritmados, em seu entorno. Olhei para o alto e
observei por cerca de treze minutos exatos os movimentos destes e das nuvens
que se cobriam de poeiras e camadas de várias tonalidades de branco. Como esses
animais sobreviviam, eles eram uma dança para o meu tédio concêntrico. Resolvi
fechar as janelas, escovar os dentes e me esqueci do coração momentaneamente. </span><o:p></o:p></span></div>
Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-71782041400353135562016-12-07T15:44:00.004-08:002016-12-07T15:45:28.420-08:00Jardim <span style="color: #f6b26b; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: black; font-size: 14px;">A vida é sempre a testemunha dos céus sobre nosso sangue que se expande em todos os tímpanos, feito impulso sonoro, feito um sono danoso e duradouro, próximo ao jardim. A calamidade de nossos ancestrais nos puxa por debaixo da cama pelos pés que sempre se encontram em desatenção e lá estamos novamente, rostos próximos demais ao pó da terra. </span></span><br />
<span style="background-color: black;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: 14px;"><br /></span></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: 14px;">A taxa de mortalidade infantil ainda é alta se compararmos nossos corpos a motores semi-falíveis e justamente perecíveis que se ex</span><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-size: 14px;">pandem nesse espaço. Se a Lua sussurrada se combinasse com os diagramas esculpidos em meus dedos, diria que sou filha de alguma tristeza cozida em preces e olhos de boi, elefantes, ou de tantos outros animais de grande porte, largos, vastos, pesados. Mas há apenas o sonho de aranhas que passeiam sobre minha clavícula e cantando antigas canções ao lado dos meus olhos, nunca as vejo de frente, talvez sejam um detalhe entalhado desse lugar. </span></span></span><br />
<span style="background-color: black;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-size: 14px;"><br /></span></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-size: 14px;">Há pouco esculpi um frondoso jardim em frente aos meus dentes de sabre, era de terra vermelha, havia uma água pantanosa, uns pássaros que cantam ao amanhecer, algumas nuvens fragmentadas nas alturas, flores que desconheço o nome e procedência, etc. Nada de assustador, garanto. Talvez um fio de corda próximo ao rio, uma lã tecida em silêncio ao lado da jarra de porcelana com um chá esverdeado e de produção indefinida. O tempo é muito solitário ao lado desse chá, mesmo ao lado da moça que preparou o chá na estufa onde estão algumas das bromélias e orquídeas, mesmo de frente para o paletó desbotado pendendo numa cadeira, no jardim.</span></span></span><br />
<span style="background-color: black;"><span style="color: #f6b26b; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-size: 14px;"><br /></span></span>
<span style="color: #f6b26b; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-size: 14px;">Aqui há muita poeira cor da terra que por ser vermelha, mancha tantos tecidos, das mais variadas texturas, modelos e tamanhos. Olhei para meus pés e, mesmo depois de lavá-los com água sanitária, permanecem cor de água salobra que é a água tipica do jardim, juntamente ao avermelhado da terra opaca que paira em seus termos por sobre o chá da moça, sobre os tímpanos dos elefantes, sobre olhares de porcelana lunar de grande porte.</span></span></span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-15245158583531886382016-11-27T19:18:00.002-08:002016-11-27T19:23:02.935-08:00Sorriso em mais de 30 atos<span style="color: #eeeeee;">Tua maquiagem forte, borrada, feita de misturas diversas, entre cafés, em torno de teus olhos sombrios,</span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Aludiam aos sábados de aleluia que um dia permaneceram entre minhas tempestades cativas de memórias e de sinos, havia uma igreja antiga na esquina, os sinos sempre ao meio dia e às dezoito horas.</span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Sentia o cheiro de tuas fugas, sempre presentes num sorriso lento, moderado, numa ruga que se formava acidentalmente na lateral dos lábios com mais de trinta anos.</span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Aquilo era tristeza e verbo mudo em cima da mesa de madeira maciça, onde costumava jogar com displicência teus casacos e cotovelos, eu adorava o singular de teus dez dedos longos, ágeis e frios.</span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Não poderia guardar essa beleza que era constantemente arrebatadora e obsessiva entre meus dentes, precisava colocá-la na ponta dos dedos todos, precisava das pontas dos pés dos outros que eram mais altos, precisava estar no meio de alguma das múltiplas e espantadas línguas de Deus, num allegro molto appassionato.</span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Teus dentes eram sempre encobertos por nuvens que transitavam entre um estado de humor e outro, eu nunca conseguia decifrar qual seria o próximo movimento, mas tinha um sabor suave de café e de algum cigarro fino, daqueles importados, disso eu entendia um pouco e te adorava por isso.</span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Teus olhos guardavam a nostalgia daqueles que tentaram e não conseguiram, mas você pelo visto tinha conseguido tanta coisa sem nunca haver tentado quase que mesmo nada, apesar de teu silêncio tão inteligente que emudecia a gente, cativo, era uma espécie de planeta da comunicação em combustão, uma constelação tardia, um verso meio apagado da memória, era peça pertencente ao meu rosto, aquele teu sorriso vincado que tanto eu adorava, mesmo nas noites mais áridas e vazias.</span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Teu corpo esguio chegara em plena luz do dia e eu não soube como carregar no colo o tamanho dos teus olhos noturnos, quase me peguei rumando para outros apartamentos isolados na busca incessante de fugir da luminosidade de tuas luas refinadas, de teu olhar que mais se parecia com um sabor suave de café.</span><br />
<span style="color: #eeeeee;">A madeira maciça que contornava nossos corpos em dimensões arrebatadoras teve nos dedos todos o nosso encontro, borrado, forte, feito de misturas diversas, feito de teu maxilar quadrado, cheio de revoltas, lábios firmes na seriedade das semanas que se seguiam.</span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Teu transbordamento era calculado como a marca de café que havia na tua caneca matinal, o meu era quase sempre fervido na água amarelada da tubulação envelhecida do prédio outro, eu me sentia muito só sem teu silêncio cativo. </span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Teu silêncio era um pequeno prazer que escutava atenta e de olhos fechados, com a ponta dos dedos um pouco rígidos, um pouco cansada de analisar os possíveis fundamentos da trégua e de não compreender que o tímido e vincado sorriso era toda a explicação que precisaria para estes dias mudos e rotos. </span><br />
<span style="color: #eeeeee;">Pedi um café suave, já não fumo mais, mas ainda pedi uma constelação tardia e pedi uma peça da minha memória. Creio eu que me bastaria, até o meio dia, até reencontrá-la.</span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-10414466946379824032016-10-30T16:48:00.003-07:002016-10-30T16:48:49.523-07:00Observações<span style="color: #cccccc;">Não tenho cáries, sempre trabalhei bastante, isso deveria ser o suficiente. Arrancar todas as peles, devastar rostos com meus dentes afiados feito gema de ovo, é uma possibilidade. Estilhaçar meus cantos, minhas sombras laterais, me arremessar de tua janela estrambótica, outra possibilidade. Eu juro que recebi um pouco de educação, o suficiente, eu diria. Engula num suspiro de uma única vez a vez de vida que eu tive em meus pés, como um trago. Meu sangue pode congelar nas veias, minha sombra não estanca nas paredes e portas, ela prossegue, insistente. Estou como um canto de saia esvoaçante que se repete sobre uma vasta mirada, uma espécie de arrancar de peles. Minhas penas, peles e olhos prometiam algo a mais a outras partes de meu corpo, porém faltou um ritmo, um devastar qualquer que tocasse como estratagema minhas veias. Eu escovo os dentes quatro vezes ao dia. Eu me deito, não há recordações, não há meu nome, meus sonhos, meus santos dias, meus golpes de alegria, meus horrores de estar em, de estar sobre algo, de sentir além das esquivas e dos anos traiçoeiros nos quais permaneço em posição de caça. Sobre a impossibilidade do amor, minhas veias tomaram formatos equinos e o coração algo que não pode ser nomeado, talvez recitado com uma velocidade acelerada. O chá não estará pronto a tempo, a comida não estará servida e minha cama estará bastante arrumada mesmo no final. Não amassarei a toalha de linho da mesa de jantar, colocando meus cotovelos sobre, prometo. Não darei trabalho algum a ninguém, prometo. Deixarei a porta trancada e serei silenciosa, como aprendi a ser, sigilosa. Eu sussurro e, por um momento, é quase erótico meu sofrimento, me desculpe por esta observação impertinente. Eu reviro os olhos, sinto meus dedos frios sobre meu corpo, é quase um mistério que o destino seja assim tão estranho e inimigo, insistente, parece que não fui educada o suficiente. Não dançarei mais, não terei mais que ser alimentada, isso será de grande ajuda, garanto, logo logo, mais economia em tempos sombrios, uma espécie de peles e de rostos devastados se aquecerão das minhas sombras. Talvez haja uma dança lenta neste caminho de aquecimento das marés, mas somente para os próximos meses, esta é a previsão. Alguns poderão ficar com os livros, os sapatos gastos mas, a cama permanecerá arrumada e intocada, eu sou organizada, mesmo sendo suja, fria e manipuladora, eu me viro, darei um jeito para que a sujeira seja a menor possível, afinal, sou apenas uma sombra sobre um edifício qualquer. Procuro sempre ser asseada e não amassar toalhas com meus cotovelos incômodos, tenho boas recomendações, verdade seja dita.</span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-9632607944461882612016-10-12T13:00:00.001-07:002016-10-12T13:00:15.718-07:00Caranguejo <span style="color: #d0e0e3;">Traço todos os meus caminhos nas encruzilhadas azuladas pelo brilho espesso da carapaça do caranguejo. Caminho com os olhos baixos, silentes pés que se afundam em areias e cimento. preciso olhar para trás e sentir o vento que cai sobre meus cabelos na minha pele. um azul de cores que ofuscou a semente que atende pelo nome de canto e de sonho. Retraço rotas, levanto metas, não atinjo nada, é simples o dardo tranquilizante que permeia meu coração. tem um caminho de pérolas e dedos que transfiguram sonhos e que tem um nome marítimo. Sorrio um pouco, me sinto tímida e inadequada, é compreensível, não consigo expressar o quanto já carrego comigo. Mas não determino que o vento continuará a bater no meu rosto e que me inclinarei um pouco sobre a boca do poço e verei o teu rosto completamente translúcido num piscar de areias que se agitam no fundo. a minha saia subiu bem acima dos joelhos quando me inclinei. não temo, sorrio novamente, acho incrível essa liberdade que me dá chamar pelo teu nome e chamar palavras para encontrarem um vocálico e pálido alimento de quem tem por rotas os olhos no chão e pedregulhos ásperos nos céus. talvez seja o efeito dessa areia toda que deixei cair dos bolsos furados da minha camisa de carapaça de caranguejo. ainda encontro um aéreo voo que faz pelas sombras dos dedos naquele fundo de mar, naquele áspero poço, pelos meus olhos castanhos e tímidos, algo silente, tem o azul e outras cores variáveis. é compreensível que tenha chegado outra estação de mar, de trem, de vento terrestre, de tempo presente, de mãos entrelaçados numa chegada que se parece eternizada num momento de pedestre. Perdi todas as metas, caíram dos meus bolsos na areia, no fundo do poço, me inclinei, olhei o reflexo do teu olhar quente, úmido, tímido, como areia e mar. fechei os teus olhos com meu sorriso e esperei somente que o olfato desse serviço de guia ao coração destemperado. não senti mais medo de qualquer tempo, de qualquer monstro, eu tinha uma carapaça, tinha flores diversas para brincar no reflexo dos olhos alheios, tinha um brilho espesso que não adestrava nem meus cabelos nem minhas angústias. era algo de submarino que assentava como dedos em minha cintura e chamava um compasso de rio, de floresta, de rotas, de sementes. uma corda solta, uma nota que ressoa pelo mar e vasto como um caminho quando percebo que ainda piso sobre areias e cimento. minha saia levantou mais de dois palmos quando fiquei na ponta dos pés para olhar teu reflexo no poço. percebo que possuo nos bolsos e no coração uma carapaça de caranguejo. sorrio.</span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-15139826036007256092016-10-05T13:20:00.001-07:002016-10-05T13:38:03.532-07:00Despeço-me de todos os oráculos<span style="color: #cccccc;">Despeço-me de todos os oráculos e, pela desfaçatez de um texto, me coloco do outro lado da margem, do outro lado da obscura lua de citrino. Não posso mais contar os dias através de cálculos nos quais habito em passado e futuro, sem ao menos ter a sombra debaixo dos meus pés e olhos, atentos, postos no chão. Levanto as pálpebras vagarosamente para a chuva que arrebenta o solo em poças que se assemelham à ondas sonoras. Calmamente fecho livros, calamidades, açoites, sangrias e amores. Desesperadamente me despeço de todos os oráculos, por caráter meu de obsessão, por um riscado estranho do Destino que me desdenha em vez de me comprar. Canto com os lábios um pouco secos, as mãos um pouco dormentes, pois não posso mais ler as mensagens que os oráculos deixaram nos muros das ruas, nos bancos das praças, nos quadros pendurados nas paredes do prédio onde moro. É o sentido invertido, é a loucura do símbolo e do signo que me arrebenta o peito e me deixa sem ordem. Não possuo mais esse dom. Descrever o Destino não é sinal de sorte. Não quero mais atravessar os sentidos que podem haver num copo que se estilhaça em vidros pelo chão da cozinha. Não posso mais olhar os corvos, as árvores, as estrelas, os planetas, as umidades do céu e assim lê-los em versos dodecassílabos. Não posso transcrevê-los nem com a saliva de minha ausência nem com a paciência de minha violência. Tenho chifres entre os ossos das mãos que me alfinetam o coração, todas as vezes nas quais toco em determinados tabus sanguíneos. Colérico, alarmado, fleumático, despeço-me dos trazidos e dos deixados, despeço-me de descrever o destino com alfabeto, alfabeto como sintagma. Despeço-me de todos os oráculos pois, por afinidade com o não existir, me restou muito pouco. Habito a história com os pés em alturas aquáticas. Habito com aquilo que ainda de pequeno anfíbio me restou entre as membranas dos dedos dos pés. A estrutura óssea é movediça sobre o medo. Despeço-me do olhar sobre a morte, pois não me cabe julgá-la ou usurpá-la ou delimitá-la em sua espacialidade que me é estrangeira, mas que carrego com um pouco de afeição estática, como se fosse um livro de horas, repleto de peso, imagens e fios de ouro. O que a clareza e a delicadeza de estar exausta me trouxeram não se posterga. Despeço-me do Destino ou mesmo O encontro agora, pois é instante.</span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-86356788325475270872016-09-24T17:00:00.001-07:002016-09-24T17:00:08.439-07:00Pugilismo - parte II<span style="color: #f9cb9c;">Não tenho por hábito escrever títulos ou encontro um punhado de dificuldades para que um texto caiba em três ou quatro palavras que compartilham um ideia em comum com aquilo que virá logo a seguir. E o que isso tem com o boxe? Pois te digo, tudo. A arte da esquiva é uma delas. Eu me esquivo de títulos, é quase um conto pensar num nome. As ideias cabem de modo invulgar nas sinapses. Penso que ao muito se esquivar, acaba-se por cair fora do ringue antes do tempo. Assim, na vida mesmo. Essa imagem da eterna esquiva, traz à memória aquelas fabulescas histórias macabras do século XVII e XVIII sobre como um homem qualquer tenta ludibriar a morte e acaba por encontrá-la do modo mais inusitado o possível no fim da linha. Sempre gostei da ideia de me relacionar com a vida fazendo uso do "clinch": o abraço que se utiliza no boxe para evitar que o adversário tome distância o suficiente para socá-lo nos cornos ou no fígado. Ou mesmo nocauteá-lo. Enxergo o clinch como uma mútua forma de admitir algo pouco viril, digamos assim: estamos ambos cansados. Precisamos de uma pausa. Precisamos de um pouco de tempo. Mesmo durante, em meio, ao embate, mas sem perder o ritmo da dança. Não há espaço para um copo de água. Nisso é que reside o mais incrível e mágico. Nunca se perde o compasso. Mesmo quando se muda de tom em meio a uma canção antiga e não partiturada ou mesmo partiturada, mas que você não sabe ler a tal grafia musical. E como evitamos o adversário? Isso mesmo, o abraçamos, improvisamos, decoramos a canção para tocá-la com a partitura a nossa frente, fingindo, assim, saber lê-la. Tacitamente sabemos as regras do jogo (e as regras da morte) mas não estamos interessados aqui em nos esquivar dela. Esquivar-se da morte é jogo de aposta barata, é carteado em beira de estrada apostando a sua bendita alma por não ter uma pataca furada no bolso, é jogada furada, já te disse. Esquivar-se da morte é trama em malha fina, perto do penetrar um reino qualquer de poeira e vaidade, um reino de fundo cargueiro, um reino marinho que traz canto antigo de velho marujo que escreve e que luta um pouco, ocasionalmente, nas guerras napoleônicas. Talvez aos finais de semana. O clinch não é para finais de semana ociosos nem para conversas amigáveis às tardes de sábado por volta das quinze horas nas quais você utiliza a porcelana de sua tia madrasta com arabescos azuis e colchetes que mais se parecem azulejos presos numa vírgula do tempo. O clinch é para ser mais utilizado do que a esquiva, pois o boxe é esporte que se dança, é um jogo em que nos tornamos mais vulneráveis do que o habitual perante os olhos do tempo, é um esporte de corpo a corpo, sangue e estrelas. Note como dança: sempre gostei de boxe.</span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-57885123297274953562016-09-21T12:18:00.003-07:002016-09-21T12:18:47.822-07:00Pugilismo <span style="color: #f9cb9c;">Sempre gostei de boxe, mesmo quando não tinha consciência de verbalizar esse gosto através da letra grafada. Mas como se gosta de uma sucessão de socos sob a forma de arte, de esquiva forte, imperfeita, calculada, matematizada na linguagem do corpo transpirável? Sabe-se que ao levar o último soco numa briga de escola, daqueles que doem de verdade, mas não possuem força o suficiente para deixar vestígios sobre a pele, levei um gancho. Um gancho é um soco que te desestabiliza, você perde sua noção, por milímetros do espaço-tempo, do segundo que te faz ter um nome, um ideal, uma grafada palavra de metal entre os dedos. Esses motivos se modificam, como um papel de parede florido em tons de verde e marrom e magenta na parede da casa da vizinha da avó da tua prima de segundo grau que faz uns bolinhos de chuva deliciosos, mesmo com as mãos calejadas, mesmo sem nunca haver sequer cogitado dar um soco em quem quer que a humilhasse. Essa é a brincadeira de esquiva do cotidiano, que faz a chuva e o sol terem uma casa de teto de vidro nos olhos de estrela de quem foi socado com destreza, mas talvez sem muita paixão. Para que haja manchas roxas é necessário que antes tivesse o vermelho, não há outro modo, ao meu ver. Este é outro elemento forte na arte do nocaute, além da esquiva e dos nós nos dedos de papel-metal: (pois flexibilidade não se faz somente com a língua quando esta é sabida na afiada corda) a chamada habilidade-paixão. Há de haver paixão no vermelho do alvo, no sangue que pontua com encruzilhadas sanguíneas e muito finas o branco que envolve a íris escura. Há de haver paixão na guerra do corpo, no novo papel de parede, delicado e mais floral, que cobrirá o arroxeado do soco que ficou na ausência da antiga senhora que escondera cartas de amor (sem erros ortográficos, me desculpe pelos que aqui cometo) nos papéis suados por um amarelo quase celeste, as cartas acho que datam de 1937. Mais um ano de muitos socos, golpes, ganchos, esquivas, esquifes e outros melindres que não podem fazer parte de quem caleja os dedos nos murais de um antigo cemitério judeu no clandestino de uma boca quase sem saliva. E onde há o boxe nisso tudo? Pois te digo sem pensar duas vezes num mesmo palmo ou num mesmo plano de instante: está em todo o roxo, está nas cartas amarelas, está na senhora vizinha, está no soco que levei quando tinha 14 anos, está na violência de permanecer viva, contudo, e naqueles que cuspiram uma nuvem de musicais venenos que, se bem dosados, curam também, me disseram. E eu pude provar através de diversas sequências que compõe o que nomeamos de outra maneira como 365 dias, ou seja, um ano. O soco, o cruzado, o cruzeiro do navegar é preciso, o cruzeiro das almas, está numa cápsula que macula o que foi dito por diversos medos de caminhar entre o cruzamento, entre o vazamento do sangue inteiro que se derramou um pouco, junto ao açúcar de confeiteiro, pelo cantinho da boca, naquele ponto onde os olhos, aqueles que viram estrelas e vagearam por um tempo, não viram, não notaram. O sangue de verdade é mais escuro do que se parece nos filmes, eu não consigo nomear as cores tão bem, talvez eu devesse, já que resolvi revolver as palavras como se grama fossem. E a cultura da grama não vale menos por isso, disso também sei. Agora as marcas estão tomando um outro rumo no corpo que se empenha em buscar o menos do pior daquilo que o cruzado boxe-trote trouxe: aquele do verde quase amarelecido, envelhecido como as cartas de 1937 ou mesmo de antes. O boxe é também uma dança, sempre gostei de boxe.</span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-58469093423933307072016-08-04T22:18:00.000-07:002016-08-04T22:18:57.059-07:00Matar o tempo é memória terrena <i><span style="color: #fce5cd;">Dedico ao meu avô materno</span></i><br />
<span style="color: #fce5cd;"><br /></span>
<span style="color: #fce5cd;"><br /></span>
<span style="color: #fce5cd;">Meus caminhos foram dedilhados para escarpar montanhas escaladas, espumar poeiras com os cascos, chafurdar entre pedras silenciosas, como encontro, como perdição, como saudade bruta e que dilacera sem ter fim. E em pendências que transpassaram por ciclos planetários, rompi com o que de envelhecido havia na leveza triste, e em clareira no meio da nuvem, havia fogo, prisão e neblina.</span><br />
<span style="color: #fce5cd;">Na tristeza de passar por constelações entre os dedos e perfurar meus próprios olhos, estrangular minha voz, silenciar rochedos banidos pelo mar, despidos pela cósmica frieza que o vento traz, olhei novamente para trás e vi teu rosto magro, abatido, de olhos escuros, voz grave, alta e taciturna.</span><br />
<span style="color: #fce5cd;">Meu avô lia Augusto dos Anjos para minha avó, na cama, para assustá-la, antes de dormir, antes de acordar assassinado e indigente num riacho longe de beira de estrada, longe da beira do mundo, longe da beira do interior de Minas. Décadas amarelecidas pelo vento que tudo conta, que tudo canta, que tudo corta, que entorpece os olhos de areia e traz a saudade como marca de sangue, como reencenar o canto do Outro. Ele era ator de rádio novela, meu avó, magro, alto, de sobrancelhas grossas, garboso, filho de imigrantes italianos, muito pobres, vindos da Sicília, terra árida, seca, grave, próxima à beira do mundo. Amanhã acordo com tudo aquilo o que é para se acabar e se findar de vez, que se finde e que sigamos nas beiras de precipícios com a humildade que nos convém, e que nos falta, com o ramo de trigo empunhado em mãos nesse ano, data máxima venia. Mas sou ao mesmo que uma anti-finitude do todo, pois guardo imensa matéria memória que é fogo, prisão e neblina, que é saudade bruta, que é permitir saborear vogais corriqueiras de nomes de ancestrais entre os lábios, mesmo de olhos escuros, mesmo sem fotografias, mesmo banidos pelo mar, mesmo com os dedos a perfurar os próprios olhos, mesmo que na beira do assustado encontro esteja mais um nome desconhecido apenas. Leva-se algum tempo conhecer o tempo, respeitar tempos de semeaduras, plantios, colheitas, chafurdar entre as pedras silenciosas com uma respiração entrecortada por juncos e lágrimas, pela matéria que envelhecida na neblina decanta os fragmentos de montanha que ainda possuo na sola dos sapatos antigos. Ele, meu avô, quebrava o pescoço das galinhas do quintal, quando embriagado, na frente da filha pequena que horrorizada se colocou no próprio poema putrefato do Augusto dos Anjos e por ali permaneceu mais tempo do que deveria de fato, de olhos escuros, se manteve a mesma menininha, assustada e tímida, do Itaim Bibi, quando este era bairro de beira do mundo, de empregadas domésticas e de imigrantes, de uma leveza triste e abatida, algo de beira de São Paulo Capital em meados da década de 1960. Essa moça, filha do meu avô que quando embriagado chamava os filhos de animal, teve uma filha prematura e que nasceu ruiva, feia e cabeluda, que desejava-se pela mãe que fosse moço, porque o mundo é dos homens, ainda mais nessa beira de estrada que é o mundo. Essa criança é minha mesmo? Foi a primeira pergunta assustada no hospital em greve que a menina neta do avô que lia Augusto dos Anjos nasceu, soube sobre si, antes mesmo de chorar ou logo depois, não importa, não consola. Na tristeza de passar por constelações entre os dedos e perfurar meus próprios olhos, estrangular minha própria voz, silenciar meus próprios rochedos banidos pelo mar, despidos pela cósmica frieza que o vento traz, olhei novamente para trás e vi teu rosto magro, abatido, de olhos escuros, voz grave, alta e taciturna e senti saudades, por não haver te conhecido.</span><br />
<br />Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-16553352046075706862016-07-28T19:49:00.001-07:002016-07-28T19:49:45.698-07:00Timidez<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><span style="background-color: black; color: orange;">Bom dia/ boa tarde/ boa tarde em ritmo de elevador, olhar mirando os pés, ou para o teto, braços cruzados, uma perna meio cruzada sobre a outra perna esticada, o corpo levemente de encontro com o metal frio do ascensor. Típica postura de pessoas tímidas de sorriso, observadoras, caladas, de corpo meio curvado, mas a minha riqueza interna sempre estará mais intensa e bravia do que de mil vulcões em erupção, como bem sabem ser por dentro todos os introvertidos, os esquisitos, os de silêncios e os de esquinas e becos, aqueles que o sol nunca tocará com tamanha maestria como toca os demais, não sei porquê, mas não toca, por simples motivo de que o concreto é úmido e sua característica melancólica traz uma leveza ímpar que é cinza e um pouco castanha. Acabou que eu talvez tenha sabido o porquê. Embaralha nos cabelos também castanhos com um vento um pouco frio, mas agradável, nos dedos dos pés que não estão no sol, por estarem dentro dos sapatos fechados, os de olhos baixos para o chão, os que desviam de postes por um triz. Pés são elementos e membros que mostramos em dias de sol, pessoas solares mostram aos quatro ventos os pés e também os dentes, grandes, em pares cavalares, os molares, maciços e massivos comedores de carne. Os melancólicos possuem dentes frágeis, dentes que não receberam muito afeto e nutrição na primeira infância, faltou cálcio talvez, ou mesmo pelo motivo que a mãe tivera problemas com a amamentação, não produzindo leite por tempo suficiente ou mesmo não conseguindo produzir leite por estar semi-viva, mas essa é a fase crucial para a formação da estrutura óssea dos seres humanos, não se pode fazer nada. A primeira infância, até os 7 anos, segundo dizem. Não recebemos isso, mas precisamos de vitamina D, como qualquer outro ser vivente. Isso sempre nos nivela e nos pareia aos demais, não somos menos, eu costumo repetir todos os dias frente ao espelho do banheiro. Vivenciamos isso com tamanha grandeza e magnitude, o ato de receber o sol nas têmporas e no castanho dos olhos e cabelos e pele que, talvez, os de dentes e pés à mostra não consigam compreender, não por serem melhores nem piores, apenas diferentes dos que se dobram em múltiplas posições em meio aos demais, dos que tem mãos frias e que transpiram, das mãos que se esfregam na roupa antes de apertar outras e que o rosto avermelha por ter que tornar o simples bom dia/ boa tarde/ boa noite num cansativo ritual de não demonstrar nesse mundo de tanto sol o quanto de saturno se tem no coração.</span></span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-45909462999199324742016-07-24T07:20:00.003-07:002016-07-24T07:34:05.002-07:00Corpos das falanges médias<span style="color: #d0e0e3;"> <i> <span style="color: #d0e0e3;">Dedico às crianças sírias e curdas mortas na indigência da guerra</span></i></span><br />
<span style="color: #d0e0e3;"><br /></span>
<span style="color: #d0e0e3;">Pelos ossos das mãos vejo cenários antigos de metacarpos.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Atravessam tempos em tempestade forte, fecha os olhos, fortes cortes.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Lava a poeira dos ares e folhas que dedos minúsculos seguram meus músculos e tendões.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Vá num crescente envelhecer conjunto a ossos desgastados, os corpos das falanges distais.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Osso lunato que tem lua em forma de tema, possui cálcio e estrelas em sua base feita a pó.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Debaixo da terra, sete palmos de ossos sob poliformes nomes, nostálgicos nomes de medicina tradicional, jaleco branco. </span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Viram o pó dos ossos desenterrados. Eles mesmos são cadáveres, respeite, ainda sobraram alguns dentes.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Cálcio, Potássio, Ferro, elementos que correm entre os corpos sem identidade nos corredores sem norte.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">No corredor sem norte, a bússola dispara sobre ossos empilhadas num fundo de sala, anatomia medica, respeite, cresceram indigentes pelo bem maior, medicina, ciência, inteligência.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Fortes ventos, cortes imensos transversos modulam vozes e gargantas, decepam órgãos pelo bem daquilo que é humano, pelo bem dos corpos das falanges médias, muitos ossos, outros nomes, eles disseram.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Olha a anatomia de tantos, é tão igual, mas não é, há confusão entre os saberes dos homens.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Há tragédia nos ossos de tantos que guardam memórias debaixo de anjos de mármore e concreto, corpos finos, não mais firmes, em zona de indigência.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Todos em linha reta, horizontalmente dispostos estão os ossos que se dispõem a desintegrar matéria toda.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Corpo frágil de pássaro, luzes brancas por cima da cabeça a ser anatomizada, olhos de espanto, jalecos brancos, silêncio, sono, respeite, resguardo.</span><br />
<span style="color: #d0e0e3;">Pelos ossos das mãos vejo cenários antigos de metacarpos: a melancolia é a tristeza que passou a ser leveza, eles disseram, há vida, apesar de. </span><br />
<span style="color: #d0e0e3;"><br /></span>
<span style="color: #d0e0e3;"><br /></span>
Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-17989823640382980242016-07-22T20:03:00.000-07:002016-07-22T20:03:40.124-07:00Pousio<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Aprender a se amar, a se respeitar e a se cuidar de si, é diário, é lição para uma vida inteira. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Cabe a você se opta por matutar infinitas lunações sob a forma de mágoa e tristeza ou se opta por seguir galopante, rumo a algo, mas que nunca se sabe ao certo o que se é. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Cautela. Audácia. Força. Luta. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Não fomos ensinadas a isso, é preciso de muito murro em ponta de faca. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Talvez uma vida só ainda seja ínfima para nossa estrutura de quebra cabeça que desencaixa e volta ao estado bruto de pedra, pedra com restos de unhas, de carne, de vísceras. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Todo rito iniciático é repleto de quedas. Todo rito é morte. Toda a vida é bruta e não tergiversa. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Língua humana é que faz volteio em torno do outro, em torno de si. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Aprendi que quando nos perdemos numa trilha no meio do mato, deve-se seguir sempre em linha reta e, quando o entardecer se despenha dos céus, deve-se procurar um local debaixo de árvore (ou qualquer outro que instintivamente julgar o mais seguro o possível) para o pernoite. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Não se vagueia sem luz, espera-se o dia amanhecer e segue jornada nova, tendo a cabeça erguida e sabendo-se humano, sabendo-se tão perdido em sua humanidade. </span></span><br />
<span style="background-color: black; color: #bf9000;"><span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Solidão. </span><span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Não se precisa de simulacro para sorrir. Seguimos com os pés fincados na Terra e a cabeça repleta de sonhos aquáticos, contemplando verbo que é vento, elemento ar, mas que penetra ossos e os quebra sem meias conversas.</span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Cabe a você se opta por matutar infinitas lunações sob a forma de mágoa e tristeza ou se opta por seguir galopante, rumo a algo, mas que nunca se sabe ao certo o que se é. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Finge-se que sabe para nos sentirmos um pouco mais importantes, um cadinho mais maduros, por assim dizer. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Cautela. Audácia. Força. Luta. Respeite o pousio. Lança as redes ao mar e espere. Paciência. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Quem não se importa que seja então levado do elemento pensar, feito vento nos campos de trigo, feito égua no cio. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Respeita teu luto. Respeite tua luta. Resguarde o pousio. Seja grave. Seja rude. Respeite a terra. Guarde a cautela entre os dentes. Contempla o verbo ventar. Todo rito iniciático é repleto de solidão, de humanidade. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Despenhe as lágrimas com os pés no solo em pousio. Adube a terra. Sobre prato de comida, não se aconselha a chorar por cima, pois traz a dor para dentro de si de volta. </span></span><br />
<span style="font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><span style="background-color: black; color: #bf9000;">Chore como grito. Chore em silêncio. Dê murros em pontas de facas cegas. A fé está amolada</span></span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-68820414861892762432016-07-17T11:50:00.000-07:002016-07-17T11:50:03.150-07:00Pelas migalhas, eu humildemente agradeço<span style="color: #d9ead3;">O ar cativou o gelo em vidraça cinza.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Ecos, montanhas, matagais, no gelo do encaminhamento.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">A terra resvalada pelo vento corrupia no céu da boca estrelado.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Mecânicos livra-me deuses dos trabalhos de Hércules.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Essa jornada do herói possui mais que cinco elementos.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Não tenho forças para segui-los e meu pensamento é neblina.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Repetem ecos sem livre arbítrio, as folhas parecem outonais, é tempo de parar.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Guardar luto pelos invernos, guardas lutas para os infernos, guarda amores para os enfermos.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Ajoelhei em cacos de vidro, a neblina era densa, parecia-me que havia começado outro país no passado.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Captei um eco entre montanhas e havia verdes, animais que carregam sinos barulhentos nos pescoços e velas em meus dedos.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Ecos, os doze trabalhos eram entre sombras e astúcias, não poderia: só conhecia canto bruto.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Havia um fogo no pós-inverno que a neblina mostrava aos cacos ensanguentados. </span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Os caminhos eram de início cinco, pedia que lembrassem de mim, que não escondessem de meu nome.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Meu olhar perseguia neblina, minha voz possui o encaminhamento que guarda tempo para os enfermos e para países novos.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">O ar entre meus pulmões era neblina, meu nome era neblina, meus olhos opacos, é tempo de parar.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Não se esqueça de mim, animais carregam os sinos e minhas pálpebras bovinas e barulhentas entre as costelas.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">As velas entre meus dedos escorregaram e sou grata por migalhas e por aquilo que não houve.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">As velas entre meus dedos são pelos mortos em valas e covas rasas e por tudo aquilo que não houve.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">As velas entre meus dedos são pelos acordes mendicantes das ordens antigas e dos países do passado.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Por migalhas e por tudo aquilo que não houve, eu agradeço, ajoelhada em cacos de sangue e vidro.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Por migalhas e por neblina, agradeço cada letra que derramou nas valas comuns de mortos.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Sou grata pelas migalhas e pelos caminhos de neblina, onde há trabalhos de astúcia, corisco e trilhas bovinas.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Por migalhas eu corri, eu agradeço, carrego os enfermos entre as pernas, feito animal que carrega sino barulhento no pescoço.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Eu agradeço pela neblina, pelas migalhas e assim o ar cativou gelo em vidraça morta.</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Pelas migalhas, eu humildemente agradeço:</span><br />
<span style="color: #d9ead3;">Há compaixão em meu olhar bovino, guarde isso para os enfermos dos países passados.</span><br />
<br />
<br />Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-3337974017818578782016-06-21T19:13:00.002-07:002016-06-22T06:12:43.442-07:00Cansaço <span style="color: #999999;"> </span><span style="color: #cccccc;"> <span style="color: #d0e0e3;"> </span><span style="color: #eeeeee;"> </span><span style="color: #eeeeee;">A Carlos Drummond de Andrade</span></span><br />
<span style="color: #cccccc;"><span style="color: #eeeeee;"><br /></span>
<span style="color: #eeeeee;">Veste a lavra de febre do José nos lábios, como se um tanto de terra escura fosse em noite de gula.</span></span><br />
<span style="color: #cccccc;">A noite esfriou num galope que é sem nome, sem gemido, sem valsa vienense, sem cansaço, sem morte.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Ninguém toca teus olhos em marcha que são sem mulher, sem teogonia, Minas não há mais.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Minas não há mais, seu instante de vidro, sem o carinho, sem o instante, sem a biblioteca, sem a lavra de ouro, sem o instante de cansaço.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Espere o sorriso do velho pai de barba espessa pela nicotina entranhada nas fendas dos ossos e do coração.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Já não pode fumar, teus últimos tragos foram entre meus dedos confusos, José, tudo fugiu, tudo mofou.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Já não pode cuspir, o dia não veio, tua calamidade chovia e arrastava ternos encostados em varais de jejum e gula.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Segure teu ódio antes que a noite cegue os olhos até dos mais moços, apenas acesos em lampejos de coriscos, fósforos riscados e facas escarnadoras de carne animal, de carne humana.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Agora não há o protesto, os versos, o mar, está sem discurso, em meio ao frio da noite que veio no grito mudo.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Tome a chave na mão, sem digna alma como companheiro de jornada, você marca o caminho do bonde que não possui trilhos.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Galope em trote bravio, em fuga de doce palavra, noite adentro, a metro, ao claustro dos olhos fechados pela escuridão do grito de bicho do mato.</span><br />
<span style="color: #cccccc;">Lavra teu instante de mar, sem parede nua para se marchar, seco, montanhoso, como a barba velha e amarelada do velho pai.</span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-15680606428851510412016-06-09T18:35:00.001-07:002016-06-09T18:50:07.358-07:00Havia um lar repleto de beleza II<span style="color: #d5a6bd;">Enquanto corria pelo teu jardim de luzes azuladas e simples, percebi vozes, pensamentos oraculares, cabelos raros e lentos, pois o sonho é furtivo nos campos de trigo.</span><br />
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Meu corpo poderia se sentir em casa na suave e na beleza noturna dos pássaros que fazem caminho em troncos de árvores.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Não posso conter a leveza que perambula em elemento de matéria ar, de pouco fogo, que anoitece quando fecho pálpebras.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Fecho minhas pálpebras com os teus dedos suaves de beleza noturna, amanhecer divino, pés descalços em simples chão de terra.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">O cansaço apanhou meu pés que levitavam um tanto acima do chão, lembrando que o céu era inadequado e que a Terra era perigo constante de constrangimentos e de guerras.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Viajei em oráculo violáceo de mistérios do ar, pois a leveza carregava um sono prudente, lento, constante, de olhos de cor de lençol antigo, porém limpo, estendido sobre a cama simples e prudente.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Temo em mim o caos das guerras, das tristezas que deitam corpos nos chãos, que vertem ampulhetas, que escorregam sobre lençóis em meu corpo de pouco fogo, tenho poucas vísceras na beleza noturna.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Fecho as línguas que pássaros possuem sobre as vestes de antigas bruxas.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Penumbravam minhas pálpebras fechadas por teus dedos finos, oraculares, violáceos, a atenta melancolia.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Os uivos noturnos perseguiam meus pés que caminhavam na terra úmida que não se poderia enxergar nas trilhas da noite, no vento frio, na montanha vertiginosa a muitos metros, no sono perdido em entardecer de pássaros.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Chamei teu nome, mas não havia luz, pegou minha mão com teus dedos leves e oraculares de terra e ar, levitando por sobre teu ombro, reencontrei o sonho furtivo nos campos de trigo. </span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Não se esqueça de nomes mencionados, de melancolias suaves na beleza da fria lembrança de constrangimentos simples, melancolias de pouco fogo.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Teu nome é o lar repleto de beleza, de melancolia, de pássaros simples, de árvores oraculares em troncos de corpos.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Te chamo violáceo, inalterado, inacabado corpo em metástase, como um lençol estendido sobre a noite invadida por lua fina.</span></div>
<div>
<span style="color: #d5a6bd;">Temo carregar esse oráculo que pegou minha mão com teus dedos leves de terra e ar, em constante perigo de amanhecer divino e assombroso, a atenta melancolia.</span></div>
Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-40417102236848045402016-06-08T17:14:00.001-07:002016-06-08T17:14:04.020-07:00Havia um lar repleto de beleza<span style="color: #ea9999;">O medo era escarlate e pintava minhas unhas castigadas.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Havia meio de pronunciar teu nome sem receio de verdade, sem receio de pudor.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Havia uma penumbra escarlate que emudecia meu lábio inferior de tinta escura.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Sangue menstrual escorria por meus dedos em dia frio de carne de açougue.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Havia o natural de ser violada, violentada, conspurcada sempre, sempre e mais de uma vez.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Havia o debater violento dos dentes em sonhos de medo e de vórtice, tinha nota conhecida, dentes quebrados.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Sangue instrumental calava meus lábios em forma de escarlate e púrpura doentia, carcomia as nervuras cerebrais.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Eu pensava que havia cada vez menos unhas e nervos, cores inferiores às tinturas menstruais.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">A noite corre selvagem como uma tintura na penumbra e nos escombros das curvas ancestrais do uivo sanguíneo.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Criações pesadas carcomem parte da estrutura óssea de meus ombros e de minhas unhas castigadas.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Não havia mais pétalas, lares, selvageria, beleza, dentes, sonhos de medo e de vórtice, tinha carne fria de açougue.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Calei meus ancestrais, quebrei os dentes, devorei unhas e nervuras cerebrais, cimentei tudo com medicações instrumentais e sangue menstrual em flor.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">A flor escarlate emudecia meus olhos de medo e calava meu debater muscular violento, revirado, transverso.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Havia um lar repleto de flores menstruais onde guardei minhas unhas escarlates e teu nome feito derivado do vento, feito construção de terra.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">A noite corre salvagem, conforme ditam os argumentos do vórtice e da beleza doentia, conspurcada sem nome, pelo meu lábio inferior.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Sabia da interação medicamentosa que poderia misturar junto ao teu nome, ao meu vórtice e ao meu sangue menstrual, pois a noite corre escarlate, selvagem, na beleza das nervuras e dos uivos.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">O medo era púrpura e conforme ditam os argumentos do vórtice, quebrei meus dentes nas pétalas sanguíneas.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Havia meio de calar o natural de ser violada que emudecia meu lábio inferior de uivo sanguíneo.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Havia os ecos de pétalas, lares, vórtices, medos, nervos, unhas devoradas, debater muscular violento e interação medicamentosa.</span><br />
<span style="color: #ea9999;">Havia um lar repleto de beleza, flores, lábios silenciados em uivos, prenhes agonias, violento, transverso, revirado.</span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-36146548877580397772016-06-03T19:20:00.002-07:002016-06-03T19:27:56.725-07:00Sobrancelhas<span style="color: #e69138;">Esbugalha milho em pés terrenos.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Pés grossos, densos tortos dedos sujos.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Entre terra calcam meus canhestros pés sujos</span><br />
<span style="color: #e69138;">Cansa, canta, cala, meu dia esbugalha feito vento na carne da luta que não tem terra.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Cata e esbugalha à assustadora névoa que perambula como um tropeço no teu soluço.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Cansa, os pés assustados que admiram tuas grossas e escuras sobrancelhas por cima de óculos grossos.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Terra, meus gritos umedecidos, teus olhos um pouco emudecidos, meus pés angustiados.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Minha saliva entope minhas cordas vocais que buscam um sinônimo bonito para tuas sobrancelhas.</span><br />
<span style="color: #e69138;">A terra é mais fria que teus dedos que mesclam caminhos entre meus pés.</span><br />
<span style="color: #e69138;">O trajeto da terra até os dedos dos pés é lento, doloroso, vacante, detém vozes silenciadas.</span><br />
<span style="color: #e69138;">A vulgar estranheza de uma manhã de nuvens acinzentadas por chuva que precede ato que corta silente tropeço, silente soluço.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Começo a terminar a safra do inferno, de garganta arregaçada na terra que rasga dignidade.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Mistura terra, pés, sujeira, deidade por cima de tuas sobrancelhas que só digo que são bonitas, pois a angústia não permite adjetivos muitos.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Carros, terras, testamentos, óculos, terras, sobrancelhas erguidas, pedra, janela, parede de concreto.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Terras, poluição, alimentar a grossa vadiagem da minha saliva, minha garganta embrulhada em terra vulgarizada por coisas tolas e inexpressivas.</span><br />
<span style="color: #e69138;">Tua sobrancelha emoldura minha saliva grossa feito a colheita que esbugalha milho em pés canhestros.</span>Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-44970524903507527922016-05-31T15:55:00.002-07:002016-05-31T15:55:30.889-07:00Medo Mulher<div class="MsoNormal" style="margin-left: 106.2pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;">Nascer mulher é ter fato, construção e procuração de
permissão do medo.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 106.2pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;">Permissão medo que o corpo seja esburacado,
invadido, mutilado, abandonado, quebrado, dilacerado, medido, carcomido os
olhos, que as mãos se enruguem em pavor e velhice precoce, permissão de ser
morta, permissão de ser casulo de puta abandonada, permissão de ter instituição
para consolidar o controle fúnebre de tua vagina, saturnino peso sobre o
sistema corpo, sobre teu sistema nome, sobre teu atributo de gênero feminino. A
carne, a bruxa, a terra, o medonho, é mulher medo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;">Que os punhos se ergam em luta solitária, de mulher
em queda, de mulher em exílio, de mulher casta silenciada por manto sagrado,
por fogueira, por medo do estrangeiro que habita em útero fendido, arrebentado,
explorado feito caverna medo mítica, medo mística, medo mausoléu envidraçado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;">Que os punhos se ergam e sejam os olhos revirados na
terra dos dias, mulher que morde a mordaça, mulher castigada, mulher do feche
as pernas e porte-se como deve ser mulher submissa, mulher assombrada, mulher
virgem, mas puta na cama, mulher maquiada, montada, salto agulha, mulher
sensual, sempre jovem, mulher Lolita, mulher novinha, mulher unhas vermelhas,
mas o batom, vulgar essa cor, vadia. A mulher morde a coronha fria do pavor por
descuido de existir.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;">Cale a boca, expurgo teu útero, teu sexo é praça pública,
tua saliva, teu sangue, teu suor sempre valem menos, tua carne é pouca para 30 bocas
que te carcomem dignidade, pulso, vida, história, futuro, passado, esperanças,
medos. A mulher sobreviveu, a mulher teve 30 vezes a vida exumada, espumada
entre rochas afiadas pelo medo. Mulher feito cadáver trôpego, feito pacote
bêbado. Mulher não é gente não, mulher é elemento traiçoeiro. A mulher pecadora
sobreviveu, encheu-se por 30 covas, conspurcada por 30 vermes. Mulher vertigem
não viu 30 rostos, 30 rostos de punhal na vagina, útero apodrecido por 30
horrores machos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;"><br /></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: red;">Útero doa a via ao caminho da morte, o terror que purifica
teu nome, mulher, é divino e feito de sangue. Ergo punhos em luta plena de
nomes, em guerra cheia de ódio, mulher medo, minhas unhas perfuram os caminhos
de placentas, seios e sorrisos opacos, sem manhã de sol, mulher é criança
profanada no mistério dos 30 cacos, mulher é objeto emudecido que carrega o universo
entre as pernas, mulher que em hemisférios hemorrágicos perfura a lógica 30
vezes, o demônio possui teu corpo em 30 formas de desalinho, o desafinado medo
mulher, o apagado escuro de 30 violações. Mulher de 30 corpos violentos, de 30
nomes que gargalham teu nome, corpo, medo.</span><o:p></o:p></span></div>
Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-18881676922702790272016-05-22T17:49:00.001-07:002016-05-22T17:49:36.514-07:00Delicadeza<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Havia algo de indiferença que nomeava pulsos no canto da minha sala estranha.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Sala branca, pulsos rápidos, vasos em coração de amarga tinta que escura escorria demência.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Era de sabor amargo, oposto ao sal, ao sal e ao corpo, era tangenciado pela língua de viperinas facas.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Sete facas amoladas cortaram meu nome em pulso estrangulado.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Batidas como golpes se atiravam dos céus em vespertino colorido azulado e delicado.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">A morte como pelos cantos da sala, um delicado acidente que revira olhos e contorce mãos.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Sete nomes afiavam a língua sob sombras, sob o sal que seca colheitas, sob a delicadeza do demoníaco anoitecer.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Todos anoitecem com pulso, facas, amarga lucidez de estanque golpe surdo.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">O verbo tem ossos como mel nos olhos do dia, no cerne do centro amolado, feito golpe afiado.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Quebra estruturas de melancolia demoníaca, arrebenta mares em gestação de meu ventre violáceo, adoecido.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Queima carne polida em versos de sobrancelhas de vertigem e síncopes.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Olhos revirados e luzes que subvertem os ramos de trigo que carrego nos punhos erguidos.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">A violência é pureza divina em meu corpo, trigo invertebrado, corpo invertido.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Não há verbo no caminhar descalço de minha virtude sobre os mortos, há beleza feral, selvática</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">O pesadelo caça os pulsos rápidos em retorno de contos, de casas, de expurgos, de vermes e de ventania antiga.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">O vômito precedeu palavra magia e céu azulado, contorce mãos e seca colheitas.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">O golpe surdo anoitece e queima com indiferença em minha sala estranha.</span><br />
<span style="background-color: black; color: #cccccc;">Todos os mais de cinquenta pontos cardinais de meus ossos estancaram no cerne de sete facas.</span><br />
<br />Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2508519992549437035.post-38807450749044129272016-05-16T21:16:00.001-07:002016-05-16T21:16:19.207-07:00Silêncio<span style="color: #eeeeee;">Quando emudeço no galope de ventos que cortam cordas vocais</span><div>
<span style="color: #eeeeee;">Estraçalham-se em pedaços de obscura rouquidão e silenciam os espaços entre silabas,</span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Silenciam-se entre síncopes, entre momentos de lucidez, entre espasmos vocálicos.</span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Abruptos acidentes consonantes amputaram minha voz que fraca se diverge da vontade do mar, salgado e amplo.</span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Estraçalham-me cordas, timbres, tempos, pausas, respirações, sensações dúbias, vertiginosas, a boca. </span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Corte horizontal que decepa o vascularizado de uma canção, vozes, vidas de vozes graves em verbos tristonhos. </span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Desaprender o encontro entre sílabas e entre verbo, entre carne e entre ossos, o transe que ocorre mudo e agressivo por detrás de dentes.</span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Para aprender somente o mutismo que contempla a vaga presa da voz, a selvagem pressa da voz.</span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Regem minha língua e me cortam os olhos em sangue que escorre através da garganta, garganta sem vocábulo.</span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Violento corte, abrupto, entre síncopes, Lúcifer e a rouquidão dos abismos, estraçalham-se glândulas e células. </span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Haveria grande olhar para contemplar tamanho silêncio de verbo, de corpo, de vastidão de cordas vocais, mutismo, silêncio, degola, falta ainda aquele trinado, falta aquele agudo ainda que foi amputado no agora.</span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Olhar em vagas pálpebras e longos olhos distantes para um teto branco, pálido, sem voz, sem verbo, sem a presa vasta da voz e seus tônicos timbres diversos. </span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Língua sem verbo, trinado sem canto de pássaro, mudez em aguda estranheza para com os destinos, mudeza como noite sem lua prenha, lua vaca, lua fértil.</span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Quando emudeço no galope de ventos que cortam cordas vocais</span><div>
<span style="color: #eeeeee;">Estraçalham-se em pedaços de obscura rouquidão e silenciam os espaços entre silabas,</span></div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">Silenciam-se entre síncopes, entre momentos de lucidez, entre espasmos vocálicos.</span></div>
</div>
<div>
<span style="color: #eeeeee;">O silêncio decepou o verbo estrangeiro ao dia e emprestou seu espasmódico canto sufocado à noite.</span></div>
Ana Thomazinihttp://www.blogger.com/profile/00794265957042663955noreply@blogger.com2