quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O Arcano

O louco persegue com seus multinomes
A borboleta, em dia de céu azul, multicolorida.
O cão ladra, avisando ao caminhante
O abismo logo à frente
Porém este mergulha no negrume do vão
Do vão inominável e vertiginosas quedas
Infinitos espirais, prenhes do nada
e do tudo.
E o louco gargalha em sua transformação
Abraçando ao todo e ao vazio.
Troca de pele, conforme ditam certos animais
E tal como as árvores, nos dias de outono.
E nesta dança cigana, inconsciente,
É sábio e forte, por ser insano.
Pois a imprevisibilidade das estações e dos cantos dos pássaros,
são alguns de seus números da sorte.
Como um sonho pode ressurgir
Dentre as águas turvadas por cinzas
Cinzas de fogueiras já extintas.
Há um ressuscitar em dedos e anéis
E naqueles olhos longínquos.
Olhos desconhecidos e forasteiros
Como todo sonho sincopado pela vida,
Que pode correr como mar tempestuoso
Ou como rio brando, forte, calmo, intenso
À força da ressurreição de uma vida

Num coração alquebrado e (quase) desesperançoso.

Luta a tua causa, homem de bem, não sei de onde vens
Nem da cor de teus olhos.

Vem que te espero, na volta ao teu lar
com uma canção nos lábios e com os braços
Repletos do frescor daquelas árvores
nas quais repousavas nos repousados calmos dias
de tua infância, na infância de teu espírito.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Sufocado Tropical

Houve um dia de tristeza
E desespero para toda uma nação
Uma nação rica, loira e saudável.
Boquiaberta, as câmeras captam, 
A jovem dama ao levantar seu punho ornado a ouro
E que chora através de seus olhos belos, singelos e azuis,
Dior, Dolce & Gabbana e Gucci 
Pois o Brasil perdeu sua dignidade ao ser goleado
Na Copa do Mundo.

Houve um dia de tristeza
E desespero para uma nação
Uma nação pobre, negra e doente
Boquiaberta, sem mídias quaisquer,
A velha mãe ao levantar seu punho ornado à dor
E chora através de seus olhos sem cor
AK-47, metralhadora, e 38,
Pois o Brasil perdeu a sua dignidade ao matar
O favelado sem rosto e sem nome.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

A oração do Pai Nosso, adaptada aos dias de hoje na intelectualidade brasileira (sic) em tempos de Pondé, Olavo de Carvalho, Romeo Tuma Júnior e afins...

Adam Smith que estás no céu
O Mercado seja o vosso nome
Venha a nós a vossa livre concorrência
Seja feita a vontade do indivíduo
Assim nos EUA como em Bornéu
O pão nosso de cada dia nos dai meritocralmente
Perdoai as nossas comunistas, assim como nós perdoamos a quem tem inclinações trotskystas
E não nos deixei cair em Anarquismo, mas livrai-nos de todo o Mao.
IPhone!
A melancolia de um domingo à tarde
É atemporal.
Seja ensolarada ou chuvosa.
É impessoal, preguiçosa e triste.
Tem pouco sal, pimenta e muita saliva.
Talvez esteja num choro escondido numa casa
Antiga e solitária.
Talvez também esteja na esquina
da padaria vizinha.
Ou mesmo na vida que passa,
às quinze horas e dezesseis minutos,
Como os carros.