segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Soneto sem métrica

Caiu ali na grama -
a estrela fêmea, negra,
qual soneto velho e ressacado.

E deu-se conta de que já não precisava mais dela.
Sozinho no quarto, sozinho na América.
Qual Drummondiano maldito
Qual homem descalço e sem cabelos.

Soneto sem métrica.

Sei lá o que escrevo.
Acho tudo isso uma grande bobagem.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Diário

O mar inventou teu nome, lá nos dias calmos de nossa infância.
Então vem aquele tão estranho e conhecido gosto agridoce.
Ah, inconfundível solidão, por onde andavas?
Estavas tão distante que não te percebi, ou fingias não me alcançar
quando bem sei que estavas sempre ao meu lado?

Sem reticências

O vento escorre por meus cabelos e a roupa assenta
no meu coração.
o grito do sol, os pássaros por entre os dedos
sorrisos belos e grandes.
Dentes largos, mãos de pai.

Intervalo!

Mas por quê?
Sabias meu nome, antes d'eu nascer?
Percebias meus contornos, minhas pulsações e pulsões?
Talvez. Nunca de fato saberei. E também não tenho os motivos certos.
Estou sempre tão errada que chego a me sentir alegre.
Ouço vozes de pequenos ao longe, sim, sinto o doce de teus cabelos fartos e castanhos.

Basta!

Sem medos as emoções se esvaem
não pretendo arriscar meus temores em justa causa.
Eles me libertam de todos os mundos: estou só, isto me serve.
Respiro mais uma vez, agora talvez chore ao som de um violino
ou de uma gaita de fole.
Quem sabe que sou musa das dores
e das almas pouco vaidosas?

As vozes ainda me comovem,
os humanos plantam sementes em meu peito,
Queria gritar, junto aos deuses!
Abrir os braços e correr pelas praias mais longínquas e intocadas!
Vibrar com os homens, viver as danças e ser poeta de meu próprio sortilégio...

Ponto.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Corre, vento, corre, vento!
Náusea, tanta dor neste peito atormentado
E o pesar e medo, de mãos dadas, rumo ao fim
Aos círculos espiralados,
coloridos,
Flutua, teu corpo denso
Coisa, vento, coisa, vento, coisa!
Inominável, dor, desespero, mágoa!

Arde em tonturas, breves vertigens....
estavas acordado quando tudo aconteceu?
Sentiste a meia de seda roçar por todo teu corpo de anestesia?
E aquela mulher de carnes flácidas com quem te deitavas de tempos em tempos...
Quanta náusea!
Rocha, mar, rocha, mar, rocha!
Cinza, sem forma, sem sabor, gosto de passado,
Cheiros estranhos, distantes,
Vinhos, talvez?
Agridoce é o sabor da tua pele, tempo, morte, rocha, mar, coisa, vento!




Em Homenagem ao meu caríssimo Sartre