terça-feira, 13 de abril de 2010

Cantiga à Deusa

Chamaram tuas longas barbas de mar
E teu coração de guerra cheio de vidas e prantos,
Homem do norte.
És forte, és Marte!

Conheceram tuas mãos como vastas montanhas
E teus cabelos como as mais densas e perfumadas matas,
Homem do oeste.
És dia, és Júpiter!

Clamaram por poupar a vida de teus filhos
E por teus profundos e frios olhos de pedra e castanha,
Homem do leste.
És tempo, és Saturno!

Mas

Louvaram os contornos de teus seios e tuas pupilas de mel
E pelas curvas de teu corpo quente e desejado fizeram as mais belas canções;
Mulher do Sul.
És Amor, és Mulher e és Vênus!

sábado, 10 de abril de 2010

Aos Galegos

As gaivotas pousaram em teu canto de manhã
E olharam aquele antigo farol cheio de pesar...
Pois não havia mais porto debaixo daqueles céus
Tão cinzas e pontilhados de medos azulados...

A graça está em teu sorriso,
Completo em ser apenas
Um mar repleto de pequenos peixinhos claros
Como aquele farol há tanto esquecido...

Surpresa, os pescadores estão chegando!

Rede farta, bons presságios.
Repletos corações de outros deuses,
Não seremos mais escravos.

Gigantes do mar, grandes embarcações
Não mais temamos o inverno...
Ele passou por nós como uma sombra.

Ventos!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quem

Os pés subiram correndo os montes verdes
Esperando um companheiro,
Daqueles de fim de estrada.
As espadas afiadas:
Não haverá mais jogo.

Quem virá?

As chuvas acariciaram seu rosto,
Seus olhos fecham.
O amanhã.
As marés afiadas:
Não haverá mais alimento.

Quem desejará?

Numa sala escura,
as mulheres estão presentes,
Aquelas mães cansadas e de xales pretos
Esperando por seus companheiros
As línguas afiadas:
Não haverá mais bebida.

Quem partirá?

Queria correr por todo o ar,
Alegria, vida, música... ah, Nunca mais!
Não respire o canto dos pastores.
Também estão cansados e cheios de pólvora nas mãos.
Os dedos afiados:
Não haverá mais tabaco.

Quem alegrará?

A noite soturna,
E as misérias de um passado,
corpos crispados por um corte de amor:
Menina não mais, porém não ainda mulher.
Água crescendo e lua caída.
Coração afiado:
Não haverá mais aflição.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Purgatório de Terra

Pretensos olhos de mar,
Guiem este corpo de caravela...
Este que um dia já foi seu.
Não me fustigue com seus ventos de madrugada.

E se algum dia,
Resolver deixar de banhar aquelas pedras velhas,
E desejares fazer parte deste meu purgatório de terra;
Deste meu antigo penar
E neste velho mundo
permitirei que bebas de meu vinho.
E que partilhes de minha solidão.

Não te orgulhes,
Pois todos possuem a dor latente
Daqueles há muito abandonados.
Não possuis nada e nada levará,
A não ser este velho caminho de poeira
Cansado tal e qual meu corpo.

Posso compor belos poemas,
tristes como seu rosto.
Mas ainda seria dura e de nada adiantaria
Correr e chorar pelos mortos amores.
Estes são apenas árvores ressentidas
E banhadas pela brisa matutina.

O mistério pede o contorno de tuas sobrancelhas
levantadas.
Altas qual um gigante,
Porém cego e derrotado.
Não posso mais encantar,
Mas ainda posso escrever belos e tristes poemas.
Assim como este.