terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Repicar dos Sinos

(Dedico minha inspiração aos percalços da vida e a Federico García Lorca, mestre de meus pensamentos poéticos atualmente)


Enquanto há vida cá dentro

O lago seca ao sol
E de uma dor lancinante
E pungente
Cobre-se a lua
Tal e qual Eva, depois de provar do fruto proibido.
E essa dor...

Igual a tango

Igual a amor

Igual à flor invernal

Igual a parto

Igual à traição

Igual à mulher bonita.

Mas os homens não deixam de correr metodicamente
Tampouco choram minhas mágoas e dores.
Segues tua sina de estranho Ser,
Ó mulher de fronte larga e olhos duros
Segues teu caminho de pedras tortas e pés descalços...

Seguem [eles] em ritmo de loucura
Em frenesi de danças e beijos
Em postura sôfrega e sorriso de metrônomo
Em sexo vulgar e rosto marcado
E a dor: repica como sinos de igreja em dia de casamento....

E o rosto suado de um dia de trabalho
E as lágrimas do estrangeiro
Da viúva e do cão sarnento
Da garota violada
Não são poucas as dores:
Repicando, repicando, repicando...


...como sinos de igreja em dia de casamento.





segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Passagem

Da brisa celeste
Por dentre árvores ancestrais
O sol úmido banhou seu riso
Logo pela manhã...

Então veio a tarde
pesada
e, tomando todo nosso tempo
Cobrando tarefas inacabadas,
noites mal dormidas
e, passos pesados de cansaço
Fez-me sussurrar palavras aos céus...

E de volta
de saias longas
e olhos doces
prateados
Redonda face
qual esfera imperfeita
Noite de lua crescente caiu em nossos pés
Qual água em terra seca.

sábado, 12 de setembro de 2009

sem título

Ah, angústia que dilacera meu peito...
Venha tomar um cálice deste teu próprio veneno
E embriaga-te do mal de teus conselhos
Que me matam dia após dia...

Acabes com esta úlcera
Com estes tremores
Com estes horrores
De olhos saltados
E mãos crispadas.

Não permitas mais que tua filha sofra assim
Chega de caprichos cruéis
De infindáveis amores
E penúria de afagos
Não preciso de esmolas
Não preciso de você.
Nem dele
Nem dela.

E que venha o sol
E banhe esta angústia de sal.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Desabafo

Abstrato

Indeciso

Branco.

Onde está o branco do sonho
Que levanta as penas
de um dia seco?

E a Abstração de algo
Inominável
Como a morte e a dor?

E a indecisão
do homem
do padre
da carne?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cordillera

Não sei se é essa tua negra cabeleira que faz meu peito bater forte.
Ou este seu coração duro e sensível.
Ou se é este céu bonito e esta canção noturna
Sabe, isto mexe conosco...
Esta dor no peito
E estes olhos distantes
Fazem doer-nos na carne

Esta falta de amor
Esta falta de palavras
Esta falta da falta
Esta cordilheira que se põe entre nós
Esses homens que correm, tão pequeninos
Este grito não lançado
Este escuro de teus caminhos
Cerra os olhos e os dentes

Aquele reino longínquo
Onde as palavras que escorrem por nós
Tem coro entre almas brancas
Diante de espelhos vazios
E rostos sombrios
São memórias de um passado nunca vivido

Te daria uma flor
Se possível fosse
E te daria todo dia um sol
Se a noite não fosse tão negra
Quanto a tua cabeleira.