domingo, 14 de janeiro de 2018

Retorno

Se você percebesse o quanto da vida se derrama em nosso colo sem que nada, mas nada, possamos fazer. Se você soubesse que a construção e a estabilidade estão divididas entre séculos e campos. Que o encontro de estradas e de estrelas é aquilo nos faz num rompante de mundo ser um mesmo único tempo e depois desfazer-se por inteiro. Que o tempo é mistério. Que a instabilidade faz de nosso corpo-campo-sopro aquilo que nós somos. Que o Destino tem voz que machuca-constrange. Tem tanta gente. Não temos culpa que a construção seja construída na vaga ideia de um tempo mensurável. Se você percebesse, você saberia num desespero quase ansioso, quase infantil, quase fortuito (quase sábio) que você é único e que depois não haverá mais esse único haver. Que haver é preparar-se para não mais haver. Se você tivesse fé nas estradas e nas estrelas saberia que a construção se desfaz por inteira num rompante único. Se você permitisse que estradas e estrelas se derramassem em teu colo, talvez você soubesse. Se você se permitisse saber que não há talvez nada mais único e bonito do que simplesmente não saber o que haverá. Que o tempo é fortuito e somos infantis, constrangidos. Que o mistério é um rompante e somos machucados, mas imensos. Se você soubesse que somos imensos, apesar de toda essa gente. Se nesse único houvesse você percebesse que somos gente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário