domingo, 24 de julho de 2016

Corpos das falanges médias

                                                 Dedico às crianças sírias e curdas mortas na indigência da guerra

Pelos ossos das mãos vejo cenários antigos de metacarpos.
Atravessam tempos em tempestade forte, fecha os olhos, fortes cortes.
Lava a poeira dos ares e folhas que dedos minúsculos seguram meus músculos e tendões.
Vá num crescente envelhecer conjunto a ossos desgastados, os corpos das falanges distais.
Osso lunato que tem lua em forma de tema, possui cálcio e estrelas em sua base feita a pó.
Debaixo da terra, sete palmos de ossos sob poliformes nomes, nostálgicos nomes de medicina tradicional, jaleco branco. 
Viram o pó dos ossos desenterrados. Eles mesmos são cadáveres, respeite, ainda sobraram alguns dentes.
Cálcio, Potássio, Ferro, elementos que correm entre os corpos sem identidade nos corredores sem norte.
No corredor sem norte, a bússola dispara sobre ossos empilhadas num fundo de sala, anatomia medica, respeite, cresceram indigentes pelo bem maior, medicina, ciência, inteligência.
Fortes ventos, cortes imensos transversos modulam vozes e gargantas, decepam órgãos pelo bem daquilo que é humano, pelo bem dos corpos das falanges médias, muitos ossos, outros nomes, eles disseram.
Olha a anatomia de tantos, é tão igual, mas não é, há confusão entre os saberes dos homens.
Há tragédia nos ossos de tantos que guardam memórias debaixo de anjos de mármore e concreto, corpos finos, não mais firmes, em zona de indigência.
Todos em linha reta, horizontalmente dispostos estão os ossos que se dispõem a desintegrar matéria toda.
Corpo frágil de pássaro, luzes brancas por cima da cabeça a ser anatomizada, olhos de espanto, jalecos brancos, silêncio, sono, respeite, resguardo.
Pelos ossos das mãos vejo cenários antigos de metacarpos: a melancolia é a tristeza que passou a ser leveza, eles disseram, há vida, apesar de. 


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