sábado, 5 de março de 2016

Marte em Escorpião

Resgatei com minhas pinças o peso absorto de humores, de víboras, de aracnídeos.
Salivei, cuspi e sangrei em nome de tantas deusas telúricas em meio ao deserto escaldante.
Os caminhos de meus dedos sobre teu cabelo em líquido estado negro.
Cabelos em movimentos de temperamentos , meus dedos feitos de cordas, feitos de aço.
Estilhaços do prazer que contorce nervos e línguas e um gemido quase mudo. 
Gemido baixo feito nota de voz grave com uma cor de alumínio branco.
Gemido envidraçado em minha pupila que dilata ao gozo profundo do sexo.
Meu corpo era liquefeito na camada mais profunda da lama e do musgo sabido de teus lábios.
Meu corpo era deformação e transmutação constante em libélula que revolve poeiras e doenças.
Minhas vestes negras produziam elemento fixo, de silente na loucura, viperina língua em forma diversa.
Minhas vestes negras produziram algo de inominável em cada bater de portas, tantas portas. 
Caminhos de artrópode. Visitemos o inferno. 
Possuímos muitas pernas, temos presas em cascas de árvores penduradas.
Me dê teus dedos duros feito aço e meu caos te fará guarda de meu prazer.
Portas, tantas, tamanhas, translúcidas. Basta entrar, estão abertas desde o despertar de nosso tempos.
Eu sobrevivi às vertigens feito palpitar em boca seca e olhos de pavor.
Eu sobrevivi à centenas e centenas e centenas de guerras e meus olhos permanecem em mudez vítrea.
Eu sobrevivi às tempestades dos imensos e grandiosos e gélidos desertos em minha carapaça de alacrau.
Eu sobrevivi e fiz do caos a minha morada noturna.
Scorpionis, scorpionis, scorpionis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário