domingo, 16 de agosto de 2015

Madrigal Vespertino

Compreendi que na trincheira da noite, encontrei o sabor da humanidade nos lábios.
Compreendi um cigarro de palha a contar estrelas que saltam além do farfalhar das árvores.
Compreendi que no escuro do sono alheio, havia algo de humano, de inominável que me ligava a todo esse mistério do outro, do sexo, da terra.
Compreendi que a madrugada traz um dom fraterno entre pássaros e céus adormecidos, agarrados ainda em teus dedos, na manhã vaga que prediz teu sorriso.
Compreendi que ser simples é que há de mais humano nos dias e na amizade.
Compreendi que companheiros de jornada estão além do sangue, além da força e da destruição, estão no fortuito de um cálice almiscarado e cheio de areia.
Compreendi que a morte é somente um caminho de pedras, emudecido por rochas marinhas, uma passagem para o indizível sofrimento dos homens. Mas este não é o maior sofrimento, este é um mergulho que clama por fôlego e fogo fátuo.
Compreendi que a dor traz memória e lembranças de rostos, nomes, assim como trilhas e costumes.
Compreendi que a liberdade é todo amanhecer silencioso, no canto dos rios, no ribombar das marés distantes, na viagem do sangue pelas veias, da contração dos músculos. Involuntário.
Compreendi que sempre é o tempo, que o tempo é partícula de vento, que é fluido e canhestro, mas sabido. Astros, mães, úteros, destes já me esqueci, porque é necessário perder, desistir. Seguir somente o caminho das flores.
Compreendi não possuir a noite, não deter o medo, como peixe furtivo entre os dedos assustados de criança.
Compreendi que não há nem desertos sem água, nem caminhos sem poeira.
Compreendi o rastro, o traço, o vasto da luz que dança através das ervas, das cores das ervas tocadas por nós.
Compreendi o amor e a luta das lunações imensas, insanas, caladas.
Compreendi que o que há de haver, há de ser pouco.

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