segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Há de ser

Vou-me embora e levarei somente a terra de meus cabelos.
Não desejo posses, bens, corpos, animais.
Há um cheiro agridoce no perfume do ar sereno, noturno.
Não há de haver muito, mas o que há de ser, há de ser pouco.
Pouco de terra em minhas botas, léguas de tréguas e silêncios.
Botas de ar embebidas em travessias e matagais.
Basta de guerras, há somente aquela semente na árvore distante, onde seivas descansam.
Léguas de tuas botas em meu peito de ferro, calado, dolorido.
O que há de se querer, há de ser tempo, há de ser duro, qual nuvem no céu, paisagem de montanha.
Há léguas, botas, cansaços, minha boca seca, meus odores fortes, suor, sexo, não há de ser muito, há de ser pouco.
E aquela sede, que mata, que carcome alma, que despe dentes, que disputa coração, há de ser vento seco, há de ser vento canto.
O que há de ser botas, há de ser noite, há de ser olhos revirados, feito de cão morto na penumbra da casa.
No revoar das botas, que caminham léguas, minha boca seca, teus olhos revirados, feito cachorro sereno, noturno.
Não há de haver animais, bens, cheiros, há de ser somente léguas e matagais, travessias de tuas botas no meu suor, no teu sexo, há de ser duro, onde seivas agridoces descansam.
Nas guerras findas, basta, há cansaços em meu peito de terra, levo travessias na semente da árvore distante.
Nos perfumes levarei somente teus cabelos embebidos de nuvem, suor, paisagem de montanha, há de ser pouco. Há de ser pouco.

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